Domingo, 6 de Maio de 2007

Dinamização Cultural e Acção Cívica

Vasco Gonçalves

e as Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA

Passados seis meses do 25 de Abril de 1974, na vigência do III Governo Provisório chefiado por Vasco Gonçalves, é apresentado no Palácio Foz em Lisboa o Programa de Dinamização Cultural que iria ser coordenado pela Comissão Dinamizadora Central (CODICE), estrutura da 5ª Divisão do Estado-Maior General das Forças Armadas,  em colaboração com a Direcção-Geral da Cultura e Espectáculos.


Para o então Primeiro-Ministro, um dos principais objectivos desta iniciativa «era levar os militares, o MFA, às populações e apoiá-las no desenvolvimento, na tomadas de consciência dos problemas que elas tinham. [...] Pretendíamos, sobretudo, transformar as ideias de fundo dessas populações. Não pretendíamos transformar essas populações em socialistas ou em comunistas. Queríamos transformá-las em gente democrática, gente aberta a analisar as situações e arrancá-las de toda aquela carga de fascismo que durante 48 anos tinha pesado sobre elas». A par destes objectivos, Vasco Gonçalves defendia, também, que as Campanhas tiveram um importante papel na democratização e dinamização das Forças Armadas, sublinhando o facto de os militares que as protagonizaram regressarem «mais ppolitizados» devido ao contacto com as diferentes realidades que procuravam transformar. Nesse sentido, e numa perspectiva cara à Primeira República, Vasco Gonçalves evocou, numa sessão de esclarecimento realizada no Sabugo (Sintra) em Fevereiro de 1975, a figura do «militar-educador». Este deveria aprender com aqueles que procurava educar, com aqueles que procurava ensinar, com aqueles que procurava ajudar. Na sua óptica, a expressão que melhor caracterizava a Dinamização Cultural era o «trabalho quotidiano» porque as Campanhas constituíam uma aprendizagem mútua, um processo de conhecimento do país que a revolução surpreendeu. Para Vasco Gonçalves o grande impulsionador das Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA fora Ramiro Correia, o «comandante-médico que até fazia versos [...] um idealista no bom sentido do termo». Na génese desta iniciativa, salientava a importância da Acção Psico-social utilizada na guerra colonial, assegurando que «muitos militares vieram influenciados com isso e consideravam-se em condições de desenvolver uma acção desse nível dentro do nosso proprio país, com os seus compatriotas». [...] a relação entre os militares e a população adquiriu novos contornos com a transição democrática e, para Vasco Gonçalves, as Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica do MFA seriam uma ferramenta axial no fortalecimento desta relação, eternizada na expressão aliança Povo-MFA a qual condensava os ideais da facção progressista do MFA «que eram sobretudo os da libertação da nossa pátria, do nosso povo, da realização das aspirações básicas». Utilizava o termo «missão» para aludir às Campanhas, afirmando serem estas «um trabalho gigantesco para as nossas possibilidades», referindo-se à insuficiência de meios técnicos e humanos que dispuseram para a concretização desta proposta da agenda revolucionária. «Foi uma das nossas debilidades fundamentais» - afirmava. Num dos muitos cartazes que desenhou [...] João Abel Manta pareceu representar a «esperança e a confiança» que Vasco Gonçalves depositava nesta iniciativa ao atribuir-lhe uma centralidade no célebre cartaz MFA-Vasco-Povo. Povo-Vasco-MFA (1975), onde surge ladeado por duas figuras híbridas meio soldado, meio povo, reforçadas pela frase «Força, Força Companheiro Vasco / Nós Seremos a Muralha de Aço». E foi da seguinte forma que Vasco Gonçalves se referiu a este cartaz: «O cartaz é muito terno, eu era o companheiro Vasco, mas para certo sector da população, não para o país». (Texto de Sónia Vespeira de Almeida, com base em entrevista a Vasco Gonçalves (2002) no âmbito da sua tese de doutoramento em Antropologia. Inserido no folheto comemorativo da homenagem a Vasco Gonçalves, realizada na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, em 21 de Outubro de 2006)

POVO/MFA

Unidade POVO/MFA editou às 13:29
link | comentar | favorito
4 comentários:
De blogstars.com.br a 14 de Maio de 2007 às 12:23
Informamos que este BlogStars esta concorrendo ao selo dourado do dia 14/Maio/2007 à 20/Maio/2007 - Confira no site blogstars.com.br !

Observação : O BlogStars que ficar na segunda colocação no final da votação da semana voltará a concorrer durante a próxima semana - valido apenas para 2 (duas) semanas seguidas.


De militar de abril a 25 de Abril de 2009 às 23:31
gostaria de abordar o tema das campanhas de dinamização cultural nas quais participei com muito orgulho


De editou a 26 de Abril de 2009 às 12:58
Se desejar que algo seja escrito neste blogue de sua autoria será um prazer dar-lhe voz.

ABRIL SEMPRE...


De Milheiras a 22 de Dezembro de 2009 às 15:57
Boa tarde, estou a fazer um trabalho para a disciplina de História da Educação do Licenciatura de Educação e Formação de Adultos e o tema de trabalho são as Campanhas de Dinamização Cultural e Acção Cívica, no entanto não consigo arranjar material para o trabalho será que me podem ajudar? Vamos precisar também de testemunhos.
Obrigado!


Comentar post

Maio 2012

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5

6
7
8
9
10
11
12

13
14
15
16
17
18
19

20
21
22
23
24
25
26

28
29
30
31


pesquisar

 

mais sobre mim

Pesquisa Recente

LEMBRAR: Vasco Gonçalves

2011 - 36 anos da criação...

Lembrando tempos de Pode...

E Abril se foi...

O valor da verdade

Lembrando "Abril e Zeca A...

Hoje estamos em greve

21 de Julho de 2003

Grândola Vila Morena

Relembrando...

Historial

Maio 2012

Março 2011

Dezembro 2009

Abril 2008

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

blogs SAPO

subscrever feeds

tags

todas as tags